quarta-feira, 10 de junho de 2009

o burro ativo

Outro dia, minha amiga Canciam usou a expressão "burro ativo" para descrever um tipo muito frequente, segundo ela, em sala de aula. É aquele colega ultraparticipativo, que tem opinião sobre tudo e faz questão de manifestá-la a todo instante, geralmente acompanhada de muitos exemplos pessoais desprovidos de qualquer interesse para os demais colegas.

Comentei o assunto em casa e meu pai apresentou uma variação de significado. Segundo ele, o burro ativo é o sujeito que toma a linha de frente, mostra muito entusiasmo, mas nenhuma habilidade em desempenhar as tarefas a que se propõe. O resultado é que o restante do grupo acaba sendo obrigado a empreender um esforço extra, dando início a uma série de ações de bastidores para contê-lo e evitar danos maiores.

Meu pai citou então um amigo seu, que conhecíamos de nome – um típico burro ativo, disse ele. Minha irmã interveio, constrangida: “Mas, pai, ele morreu!” (quando o burro ativo se vai, o sentimento de proteção que ele desperta só aumenta).

A meu ver, o tema mereceria um estudo sociológico, antropológico ou coisa que o valha. Embora, aparentemente, todo povo esteja apto a produzir os seus espécimes, acredito que no Brasil eles encontrem estímulo maior. Isso em razão de uma característica própria do brasileiro, a cordialidade, descrita por Sérgio Buarque de Holanda em O Homem Cordial.

A palavra cordial vem do latim cor ou cordis, que significa “coração”. Portanto, o homem cordial não é necessariamente gentil, e sim alguém que age movido pela emoção no lugar da razão. Essa característica se relaciona a uma série de outras presentes na nossa cultura, como a dificuldade em distinguir o público e o privado, o desapego às formalidades e a instituição do “jeitinho”.

No que toca ao tema deste post, o homem cordial é capaz de mobilizar um batalhão para não magoar um burro ativo.

O burro ativo é como os loucos e as criancinhas.

9 comentários:

  1. Adorei. Conheço alguns, e algumas. Adorei especialmente a última frase. Também conheço alguns, e algumas (mulheres), homens gentis capazes de dar um basta aos burros quando é necessário. Às vezes em uma única aula dá para perceber todo esse processo! É fantástico!

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  2. ha!
    os posts estão cada vez melhores! tu devias ter uma coluna num jornal, algo assim ;)

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  3. por que pra mim sempre aparece essa carinha roxa e triste??

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  4. Ana, olha o Roger ali em cima, que carinha medonha. Ele até ameaçou não escrever mais por causa dela.

    Adorei a companhia dos dois hoje.

    Bjos

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  5. Muito bom. No workshop da criatividade tinha vários (burros ativos).

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  6. parece que estão por toda parte!

    (mas ninguém escapa de ser burro ativo de vez em quando, né? :)

    bj!

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  7. Hehehehe! Adorei o post. Grande texto. Muito inspirador. Fiquei com muito medo dos burros ativos das linhas de frente...

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  8. hum... se bem te entendo, para esses, a gente tem que baixar as orelhas ;)

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  9. Dani Aspis reclama que quem primeiro usou a expressão "burro ativo" foi ela. Fica o registro. Viu, Dani! :o)

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