terça-feira, 27 de novembro de 2012

Berlim - mais fotos

A Mirella reclamou que o post anterior ficou muito longo, que a barra de rolagem enorme assusta. Sugeriu que eu separasse textos e fotos. Então, aí vão mais algumas fotos.



Romero Brito (ele, a Gisele Bündchen e o Paulo Coelho nos recepcionam em todas as metrópoles):


Vista do alto da torre da TV:



Visita à cúpula do Parlamento alemão. Agendamos antes de viajar, ainda no Brasil. Ali, na hora, o oficial da porta não queria nos deixar entrar porque não tínhamos o papel da visita em mãos. Só nos autorizou quando lhe mostrei um e-mail no celular provando que éramos aguardadas.

O prédio do Parlamento tem mais de cem anos, passou por duas guerras mundiais e várias restaurações. Em 1992, foi reconstruído a partir do projeto de um arquiteto famoso, o inglês Norman Foster. A cúpula é toda transparente, tem uma rampa em forma de caracol, pela qual vamos caminhando e recebendo informações, por meio de um fone na língua solicitada (pra variar, não tinha em português), sobre os prédios que se veem do lado de fora e sobre a própria cúpula, construída sob conceitos ecológicos. Olhando para baixo, enxergamos o plenário; para cima, o céu.



Checkpoint Charlie:




Castelo de Sophie Charlotte (não entrei, só passeei nos jardins):












Loja de chocolates:




Propaganda de guerra:


Portão de Bradenburgo:


(Olha os protestos de Wall Street, de novo)


Comprinhas:


Sony Center:


Por aí:









Noemia, estudando francês no trajeto de Berlim a Praga:

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Berlim, com a Noemia

No quarto dia em Berlim, pela manhã, fiz um programa bem de domingo: passear no Mauerpark, que descobri ser pertinho do hostel para onde havia me mudado.

Para minha alegria, reencontrei meus amigos catalães (que não conheciam o Roger, mas ao ouvirem o seu sobrenome perguntaram "o do uísque?" :)

Eles estavam exultantes porque haviam acabado de comprar por 29 euros duas bicicletas!

- Compraram ou alugaram?
- Compramos!
- E o que vão fazer com elas?
- Não sei, talvez levar para a Espanha.









À tarde, como contei no “face”, resolvi fazer uma surpresa para a Noemia recebendo-a no aeroporto, até com cartazinho (Willkomenn, Noemia!!), mas quem me surpreendeu foi ela, que devia ter chegado às 17h15 e só chegou às 20h30. Havia perdido o voo de Paris a Berlim. Enquanto ela não desembarcava, eu quis matá-la, pensando que ela seria a última a descer do avião. Depois, quando soube do ocorrido, fiquei com pena – não pela perda do voo em si, mas pela sucessão de incidentes e aborrecimentos que, imaginei, teriam culminado nisso.

Eccola, feliz e aliviada:

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Berlim

Cheguei a Berlim no dia 25, no fim da tarde. Peguei um ônibus do aeroporto até o centro e do centro até o albergue, onde havia decidido ficar nos primeiros três dias, antes de a Noemia chegar. O trajeto do aeroporto ao centro é bonito no outono, tem uma espécie de corredor de árvores, mas não cheguei a tirar fotos - estava meio escuro e nublado. Fiquei imaginando como seria o percurso num dia de sol.

No albergue, dividi o quarto com três gurias: uma de Toledo (Espanha), que estava ali para procurar emprego, outra da Escócia e outra da Indonésia. Todas muito legais, mas me arrependi imediatamente de não ter optado por ficar sozinha. O cansaço não me dava vontade de ser simpática. Conversei um pouco e fui dar uma volta. As ruas estavam molhadas da chuva recente, e minhas roupas eram inadequadas. Passei frio e, à noite, acho que tive febre.

Perto do albergue há várias danceterias. Estranhei ao ver uma fila imensa de jovens, muito jovens – 14, 15 anos – na frente de uma delas, acompanhados de algumas senhoras. Me explicaram que era comum, no fim do ano, os professores trazerem os estudantes de cidades do interior a uma boate da Capital. Eles usavam uma pulseirinha para indicar aos garçons que não podiam tomar bebidas alcoólicas.

No dia seguinte, passeei pelo centro, me ambientando, sem entrar nos lugares, pois depois teria que vê-los de novo com a Noemia.



















































Em duas das três noites em que dormi no albergue, um alarme no meio da madrugada me fez levantar. Na primeira vez, estávamos as quatro dormindo quando começou o uóuóuó. Primeiro baixinho, depois mais forte. Uma das gurias acendeu a luz e perguntou o que era aquilo. A indonésia continuou dormindo, e eu achei que fosse algum aparelho dela, pois antes já havia soado o celular e outros aparelhos eletrônicos. Não era, ela também acordou, e ficamos todas sentadas, cada uma na sua cama, esperando que parasse.

Eu então sugeri o improvável: "E se for um alarme de incêndio?". Disse isso, mas não me movi, fiquei esperando que alguém que não estivesse no alto do beliche levantasse para ver o que era. Ninguém se mexeu: "Ok, vamos morrer todas juntas", eu disse. Uma delas então, a da Escócia, decidiu ver o que estava acontecendo. Voltou contando que o saguão estava lotado, todo mundo de pijama, que os bombeiros também estavam lá, mas que era um alarme falso, aparentemente alguém que havia fumado no quarto.

Na noite seguinte, a história se repetiu. Como compensação, nos deram o café da manhã de cortesia (mais adiante, em Praga, eu e a Noemia ganharíamos uma sopa, devido a outro incidente, que relatarei depois).



No fim de semana, os museus seriam de graça (Eintritt frei!), mas eu tinha outros planos e não sabia se daria tempo de ir a algum. Não deu. Sábado, peguei o trem para conhecer o campo de concentração de Sachsenhausen, a uns 35 km de Berlim.

Segundo minhas pesquisas na Internet, haveria um ônibus da estação até o campo, mas isso não se confirmou. Acabei fazendo amizade com um casal de Barcelona que também estava indo para o local. Fomos caminhando e rindo muito a cada pedido de informações. Nem o inglês, nem o espanhol, nem o português nos serviram. Dizíamos “Sachsenhausen” e observávamos a direção apontada, acatando o que quer que estivesse sendo dito, em alemão.

O trajeto que fizemos rindo era, provavelmente o mesmo percorrido pelos caminhões que conduziam os prisioneiros décadas atrás para trabalhos forçados e/ou a morte. À medida que nos aproximávamos, essa consciência ficava mais forte, talvez pela semelhança da paisagem às memórias dos filmes e relatos daquele tempo. Podíamos imaginar os caminhões do Reich passando por aquela mesma estradinha isolada, ladeada pela vegetação rasteira.

Dentro do campo, não quis atrapalhar os espanhóis e segui sozinha. A visita é gratuita, mas por 2 euros pode-se solicitar um áudio, disponível em várias línguas (não tinha em português), com explicações sobre o lugar.







"O trabalho liberta" é o que está escrito no portão:




A maior parte das instalações originais foi destruída. O áudio descreve o local à época, buscando recompor as histórias que se passaram ali. Indica, por exemplo, as pistas onde prisioneiros eram obrigados a testar botas, muitas vezes menores que os pés, para o Exército, caminhando sobre pedras e carregando peso; o lugar onde ficavam as câmaras de gás e o crematório.

Havia na época, se não me engano, 60 barracões de prisioneiros. Dois deles, que abrigavam os judeus, continuam de pé. Foram parcialmente destruídos em um incêndio com motivações antissemitas, mas depois reconstruídos. O cheiro nesse local é muito forte. Eu associei a cheiro de porco – não somente pelo fato de que as pessoas ali eram reduzidas a bicho, mas também, talvez, porque aqui no interior há alguns galpões assim, de madeira, para os porcos. Muito triste.

Os prisioneiros tinham poucos minutos para se aprontar. Amontoavam-se todos ao mesmo tempo nos lavatórios. Alguns morriam e eram pisoteados.



Dormitório, reconstruído.



Havia uma prisão - o prédio continua lá, intacto - onde eram depositados os prisioneiros mais importantes.





Era um privilégio trabalhar na cozinha, onde se podia obter algum extra de comida. Talvez isso explique os desenhos (?!):




Conforme o folheto explicativo, o campo foi construído no verão de 1936 por prisioneiros dos campos de Emsland. Foi idealizado pelos arquitetos do III Reich como um campo modelo, embora, mais tarde, tivesse revelado algumas falhas – como o seu desenho fechado que, se por um lado, permitia uma visão geral da área e o controle sobre os prisioneiros, por outro, impedia a expansão das instalações, a construção de novos galpões.

Não ficou muito claro para mim, na hora, quantas pessoas foram mortas no local. Segundo o folheto, mais de 200 mil pessoas passaram por ele. Muitas foram enviadas, depois, para outros campos, como o de Auschwitz. Inicialmente eram oponentes políticos do regime nazista. Depois, todos aqueles considerados “racial ou biologicamente inferiores”. E, a partir de 1939, cada vez mais cidadãos dos estados ocupados da Europa. Dezenas de milhares morreram de fome, doenças, trabalhos forçados e maus tratos ou vítimas de exterminações em massa, como a que ocorreu no outono de 1941, quando foram assassinados cerca de 13 mil prisioneiros de guerra soviéticos.

Após o fim da guerra, de 1945 a 1950, o lugar foi usado como campo especial soviético, por onde teriam passado em torno de 60 mil prisioneiros, dos quais 12 mil teriam morrido de doenças e desnutrição.

*


Durante toda a minha visita, o frio era insuportável. De tempos em tempos eu entrava no museu ou na cafeteria para me recompor física e psicologicamente, o que me fez levar mais tempo do que devia no roteiro. Impossível não pensar no sofrimento extra dos prisioneiros, muitos deles recolhidos no verão e, portanto, sem roupas para enfrentar as temperaturas que se seguiriam.

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Eu sabia que anoitecia cedo na Alemanha, mas me deixei levar, queria escutar tudo, caminhar por tudo e, quando me dei conta, era noite escura (19 horas) e eu ainda estava ali, dentro do campo. Decididamente, não era o melhor lugar pra passar a noite. Voltei para a entrada, no centro do visitantes, e descobri que já estava fechado. Encontrei apenas uma janela com luz. Me aproximei e bati. O guardinha apareceu e já foi puxando o fone do meu pescoço. Eu disse "calma", entreguei o fone e fui saindo. Minutos depois, apareceu o guardinha me chamando. Queria me entregar a carteira de motorista que eu havia deixado na entrada. Peguei a carteira e fui embora, sem a menor ideia de qual direção tomar. Escolhi qualquer uma e segui andando. Quando vi um vivente, parei pra pedir informação. Ele ficou com dó e me ofereceu carona até a estação, junto com a mulher e o cachorro.

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No dia seguinte, o programa era mais leve: me transferir do albergue (Plus Berlin) para outro (East Seven), que se revelou bem melhor para mim (silencioso), passear no Mauer Park, o Parque da Redenção deles, com brique e tudo, e depois recepcionar a Noemia no aeroporto!