Outro assunto: queria comentar o livro que a Canciam me emprestou (a Lopez recém terminou de lê-lo e eu estava na fila), As 10 bobagens mais comuns que as pessoas inteligentes cometem e técnicas eficazes para evitá-las, de Arthur Freeman e Rose Dewolf.
Bem, não vou comentá-lo (li umas cinco páginas, por enquanto; minhas leituras têm sido bastante aprofundadas, como se vê). Vou apenas citar os títulos de alguns capítulos e subcapítulos:
- Deu branco: quando a nossa inteligência nos deixa na mão, o poder da mente, ampliando os limites, o estresse piora os erros, novos hábitos de pensar;
- Catastrofismo: perder a cabeça e outros sintomas, como se desencadeiam os medos, seja realista, ouça a si mesmo, questione-se, descatastrofismo, registre seu raciocínio, saia em sua própria defesa;
- Telepatia: quanto mais íntima a relação, maior a ilusão, o hábito de presumir, dicas e pistas, quando você entende tudo errado, quando os outros entendem tudo errado, dê nome aos bois;
- Mania de perseguição: uma frase - as mais diversas reações, causas comuns, o efeito cumulativo, quando você tem razão em se sentir criticado;
- Acreditar em tudo o que o seu assessor de imprensa diz: como uma overdose de pensamento positivo pode ter efeito negativo, os assessores de imprensa do dia-a-dia, o assessor de imprensa interior, teste da realidade, a verdadeira atitude vencedora;
- Levar críticas muito a sério: de onde vem a sensibilidade a críticas, aprenda a questionar seus críticos, filtragem e relativização, o crítico interior, como reconhecer uma crítica construtiva;
- Perfeccionismo: as imperfeições da perfeição, ser exigente pode ser bom, perfeição na dose certa, porque é tão difícil ceder, abrindo caminho para mudanças, estabeleça os seus padrões, como ser flexível, abordagem passo a passo, alguma coisa é melhor que nada;
- Mania de comparação: o fator ego, a comparação como fator de motivação, como lidar com as opiniões alheias, a solução "e daí", do que você se dispõe a abrir mão, mude os termos de comparação;
- Pensamento condicional "e se...?": vamos reescrever a Lei de Murphy, a premissa furada, arranjando sarna para se coçar, o "e se...?" positivo e realista, preocupação seletiva;
- Deve-ser-assim: o conforto - e as vantagens - do deve-ser-assim, quando as obrigações atrapalham, ideias à base de ia, podia, devia, deixe o passado para trás, como lidar com a culpa;
- O vício "sim, mas": a faca da cozinha, um misto de equívocos perigosos, rumo ao "sim", troque o "sim, mas..." pelo "sim, e...", um pouco de faz de conta, pense ao contrário, dizendo sim para os outros, dizendo não para os outros, o poder da asserção positiva, como lidar com alguém do tipo "sim, mas..." na sua vida;
- Como ativar seus pontos fortes: ponha o óbvio em dúvida, atribua responsabilidades, não exagere, como criar alternativas de pensamento, sentimento e ação, compare prós e contras, classifique seus erros, use as adversidades a seu favor, crie imagens substitutas, ensaio de imagens positivas, auto-instrução, autodistração, bancando o advogado de defesa;
- Além da compreensão: a teoria na prática, administração do tempo, planejamento de experiências para aprimoramento ou prazer, resolução de problemas, divida seu objetivo em etapas menores, um pouco de faz-de-conta, experimente novos comportamentos, relaxamento, roteiro de relaxamento;
- Viva melhor: uma ideia melhor, ferramentas para a vida inteira, o mundo não é todo negativo, assumindo a responsabilidade por si mesmo.
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Sexta passada, tomei um café com o Felipe e ele mencionou o meu post anterior. Disse ser um grande e mero consumidor de ideias alheias. E, para confirmar a declaração - ao mesmo tempo em que atenuava minhas dúvidas sobre como deve/pode ser um blog -, falou-me de Montaigne, considerado o criador do gênero "ensaio". Segundo o Felipe, Montaigne refletia sobre si mesmo, seus flatos e assuntos do dia-a-dia.
Fui olhar no Google e achei um texto do Voltaire Schilling sobre o autor:
Montaigne fundou um gênero - o ensaio - em que a pena do autor é deixada à vontade, guiada pelo senso comum, misturando instinto com experiência, circulando pelos temas mais diversos, sem compromissos com a autoridade, mas sim com a liberdade. Tratava-se do registro das suas experiências, de observações e reflexões que ele extraíra da vida.
Nada lhe foi estranho: o amor, a luta, a religião, a coragem, a amizade, a política, a educação... Recorrendo largamente aos fatos passados e ao enorme domínio erudito dos clássicos, escrevia pelo gosto da aventura e pela emoção que lhe provocava, tornando o leitor cúmplice das suas emoções. Como ele mesmo disse, "il n'y a point de fin en nos inquisitions", não havia limite para suas inquietações.
Exausto do mundo, passou a viver só para si, tornando-se personagem do seu próprio interesse (sendo repudiado mais tarde por Pascal exatamente por isso). É de Jacob Buckhardt, o grande historiador da cultura da Renascença, a ideia de que foi por aquela época, pelo século XV-XVI, que o Homem deu lugar ao Indivíduo, isto é o Homem descobriu a sua singularidade, o seu ineditismo. Um ser inequívoco, absoluto na sua excepcionalidade, cuja personalidade ou vivência jamais poderá ser passível de repetir-se em qualquer outra circunstância.
Até aquela época os homens pertenciam a uma corporação de ofício, a um grêmio profissional, a uma grande família ou a uma dinastia, até que se descobrem como indivíduos com possibilidades de construírem seu próprio destino. De certo modo, Montaigne, ao afirmar que "Je suis moy-mesmes la matiere de mon livre" (Eu mesmo sou a matéria do meu livro), inspirou o americano Walt Whitman, que no século XIX, nos versos "Song of Myself" (1882), também decidiu fazer de si e da sua vida o tema da sua obra poética.
HAHAHAHA Adorei o parágrafo final.
ResponderExcluirChove forte agora. Será o fim da estiagem no interior do Estado? Ou o fim do meu cabelo liso no casamento do Josimo?
Ai agora é que me dei conta! Fui eu que pedi chuva pra não sair a caminhada literária no dia 9...! :)
ResponderExcluirFelipe: Na Wikipédia (bela fonte!), dizia "a.C.". Acho que traduziram "A.D." errado!
ResponderExcluir[ Aos que não conhecem o Felipe: ele não tem oitenta anos, nem é verdade o que disse a respeito de si próprio. Mas pode se dar ao luxo de buscar o "saber pelo saber"! :]