domingo, 26 de abril de 2009

gonzo style

Queria ter escrito algo sobre o Dia do Livro (23 de abril). E ido a algumas das atrações que tomaram lugar na cidade em alusão à data. Acho que ontem teve até um Viva o Centro a Pé – Caminho dos Livros, que comentei num post anterior. Mas acabei fazendo outras coisas: de manhã, aula de ioga aberta no parque Marinha; de tarde, teatro; e, à noite, Boteco Bohemia. Agora, tarde de domingo, a máquina de lavar roupa trabalha um pouco por mim, enquanto tento manter o blog vivo. Não sei bem por que o faço.

Esses dias perguntei a três pessoas próximas, que me querem bem, o que achavam de coisas que eu havia escrito e dessa história de manter um blog. A primeira me disse que era muita exposição e que não gostava de texto gonzo. A segunda me perguntou o que eu achava daqueles velhinhos que contam a vida inteira na fila do banco. E a terceira questionou se não era uma forma de eu me desviar de escritos mais relevantes. Essas são minhas amigas, sinceras e sutis.

Na hora, pensei em correr até o computador e apagar todos os rastros deixados no universo virtual até hoje (como se fosse possível lutar contra o Google). Depois, mudei de ideia, não é saudável ser oito ou oitenta. É próprio dos blogs o estilo gonzo, e é preciso esgotar uma fase pra passar à próxima. Ao descrever seu pequeno universo, um autor pode ir adquirindo confiança pra alçar outros voos, testar o que escreve, insistindo, modificando, abandonando ou retomando certas formas de expressão.

Segundo a Wikipedia:

Gonzo é um estilo de narrativa em jornalismo, cinematografia ou qualquer outra produção de mídia em que o narrador abandona qualquer pretensão de objetividade e se mistura profundamente com a ação.

O originador do estilo foi o jornalista norte-americano Hunter S. Thompson. O termo foi cunhado por Bill Cardoso, repórter do Boston Sunday Globe, para se referir a um artigo de Thompson. Segundo Cardoso, "gonzo" seria uma gíria irlandesa do sul de Boston para designar o último homem de pé após uma maratona de bebedeira.

O mais famoso texto gonzo é "Fear and Loathing in Las Vegas" (literalmente "Medo e Delírio em Las Vegas", lançado no Brasil em 1984 pela editora Anima como "Las Vegas na Cabeça"), originalmente uma matéria sobre uma corrida no deserto, a Mint 400, encomendada pela revista Rolling Stone. Thompson gastou todo o dinheiro com drogas e álcool, fez enormes dívidas no hotel, destruiu quartos e fugiu sem pagar. Não cobriu o acontecimento e, no lugar da matéria que deveria escrever, descreveu o ambiente sob seu ponto de vista entorpecido e virou o precursor de um novo estilo jornalístico.

O jornalismo gonzo é por muitos nem considerado uma forma de jornalismo, devido à total parcialidade, falta de objetividade e pela não seriedade com que a notícia é tratada, fugindo a todas as regras básicas do jornalismo. O estilo vigora até os dias de hoje e ganha maior número de adeptos entre jovens, que se interessam pela narrativa literária de vivências e descobertas pessoais em situações extremas ou de transgressão. Se o jornalismo gonzo é ou não um modelo jornalístico, se é subjetivo demais ou se não é digno de crédito, são questões que permeiam o ambiente acadêmico.

O jornalismo gonzo pode ser considerado uma extensão do New Journalism de Tom Wolfe, Lester Bangs e George Plimpton. Outros escritores que poderiam ser classificados como gonzo são P. J. O’Rourke e Timothy Edwars Jones. Kurt Vonnegut pode ser considerado uma espécie de precursor do estilo.

Livros e filmes - As matérias de Thompson viraram livros, que se tornaram best-sellers na categoria; e até filmes: "Where the Buffalo Roam", dirigido por Art Linson em 1980, com Bill Murray no papel de Thompson; e Fear and Loathing in Las Vegas (lançado no Brasil como "Medo e Delírio"), dirigido por Terry Gilliam em 1998, com Johnny Depp no papel de Thompson e Benicio del Toro como seu advogado; além de um documentário feito para a TV em 1978, "Fear and Loathing in Gonzovision".

4 comentários:

  1. Mas que amigas, hein, Marinella? :)

    Tu não tem amigos ou parentes em outras cidades, Estados, países? Ou na mesma Porto Alegre, mas a quem tu veja pouco? Pois para mim o blog serve para se comunicar com essas pessoas. (E ainda, às vezes, com pessoas que você nem imagina, no outro canto do mundo.) Parecido com o velhinho na fila do banco seria quem envia e-mails de maneira indiscriminada, por exemplo (para não falar em orkuts, facebooks, etc.)

    Quanto ao jornalismo, o blog virou uma das melhores ferramentas. Sobre a gripe no México vai te informar no jornal, onde tu vai achar "jornalismo oficial", isto é, o que dizem as agências e órgãos de cada país, ou no blog de um médico de México D.F.? Já faz anos que esse jornalismo funciona melhor (Baghdad, Palestina, Líbano, as últimas eleições nos Estados Unidos, etc.), e a mídia tradicional sabe disso (e sofre as conseqüências: ainda não aqui, no Brasil, mas sim em outros países).

    Mas enfim, não é preciso ser blogueiro de zona catastrófica, basta com isso do início: com querer ter informadas de tua vida vinte pessoas, em vez de ter de escrever vinte e-mails pessoais a cada vez...

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  2. Oi, Roger, pois é, obrigada, precisava ouvir isso :)
    Já recebi protestos da minha irmã, que disse que eu entendi tudo errado (as minhas outras duas amigas não leem o blog, mas nos falamos por telefone, e-mail ou pessoalmente).

    Minha preocupação com o blog (e o mundo virtual, em geral), às vezes, é que ele me abduza. É um tema antigo. Assim como a mania de duvidar de tudo o que eu digo :)

    Beijos

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  3. Sou estudante de jornal, não costumo escrever gonzo, mas adoro.
    A respeito do ultimo post: não se limite ao espaço. Um bom texto é um bom texto no blog ou num livro, tudo tem seu ponto de partida.
    Intrometida neh?
    Gostei do blog

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  4. Obrigada, Natália! Intromissões são bem vindas, preciso resgatar energia e retomar o blog. Vou lá fuçar no teu :)

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