A gente vai ficando velha e se torna mais sensível. Sempre achei bom quando pai e mãe se iam pra praia e me deixavam dona do campinho. Ou quando eu pegava um avião e sumia no outro lado do mundo. Continuo achando; no entanto, hoje, cada vez mais, me pego com sentimentos outros. E me ponho a reparar em detalhes: na escada imensa que vai pro telhado e indica que o pai anda subindo até lá, na mãe com seus milhões de fuxicos e os dedos espetados de teimosia, nos dois reclamando um do outro, dia e noite, e caminhando de chapéu toda manhã, na união contra o cachorro que não para de latir, no hidratante com cheiro de vick vaporub, nas árvores enormes, nos temperos, nas flores e nos chás plantados um a um, nas colchas de palhacinho que perduram nas camas e nos móveis que mudaram de lugar. Penso em tudo e penso que às vezes devia estar lá. E, quando penso nisso, penso que eles pensam que estou triste, que não tenho aonde ir. E que se estou longe é porque estou bem. Que me querem independente, mas não tanto.Eu os quero independentes, como pais. Mas os papéis já se misturam na minha mente. Só na mente. No lado de fora, no lado visível, seguem os mesmos. Por conforto, por hábito, por querer prolongar nossa estada aqui...
Porque assim há de ser. Enquanto for.
Foi um dia bom. Depois de uma semana de folga em Porto Alegre e o feriadão de carnaval em Rainha, voltei ao trabalho. Estava me sentindo meio que nem criança que conta os dias para começar as aulas e rever os coleguinhas. Talvez porque a folga coincidiu com a TPM. Ou porque, embora tivesse decidido não viajar para organizar a vida, temesse estar perdendo tempo por não executar o plano a contento. Outras pitadas de felicidade:
O pai sempre teve vontade de tirar o sombrero da parede e usá-lo pra cortar grama. Por isso, este ano, quando apareceu um vendedor oferecendo a peça ao lado, a mãe só precisou dar um empurrãozinho :)