terça-feira, 21 de abril de 2009

como amar e ser amada nos dias de hoje

Sábado, participei de um curso intitulado “Como Amar e Ser Amada nos Dias de Hoje: O Método Sheng nos Relacionamentos”. Sei, não deveria me expor desta forma, mas as amigas perguntam como foi e eu respondo inocente:

[caption id="attachment_940" align="alignleft" width="210" caption="Fabrício e eu em 77. "]Fabrício e eu em 77. Essência ou ajuste criativo?[/caption]

O método Sheng une os cinco elementos da Medicina Chinesa – madeira, fogo, terra, água e metal – aos princípios da psicologia humanista gestáltica. Conforme a ministrante, todos nós temos uma essência, um modo de ser que é só nosso e independe do meio externo. Ao longo da vida, vamos estabelecendo “ajustes criativos” para nos adaptarmos ao meio. E, às vezes, nos distanciamos tanto da nossa essência que nos perdemos no caminho.

[Minha amiga Noemia, versada no tema, sempre me falou em “máscaras” a cobrirem a nossa “essência”. Suponho que as máscaras correspondam aos ajustes criativos.]

Nossa tarefa no curso seria buscar a essência em nós e nos outros. À medida que a psicóloga falava, porém, eu ia me identificando com todo o ciclo da natureza e considerando impossível estabelecer o elemento mais marcante. Ela garantiu que até o final da tarde eu me acharia.

Pediu-nos que caminhássemos pela sala e pensássemos numa forma de cumprimento e numa palavra que definisse o que estávamos sentindo. Pensei em dois beijinhos e em mil palavras simultaneamente. Disse para cumprimentarmos as colegas da forma como havíamos pensado e para dizermos a elas a palavra. Dei meus dois beijinhos, mas não soube o que dizer. “Indecisão”. Pronto, essa era a minha palavra, que saí repetindo de colega em colega.

A palestrante prosseguiu falando sobre os cinco elementos, cada uma das mulheres revelou um pouco de si e eu julguei ter me achado. Sou madeira. Sem dúvida. A professora também era. A madeira é movida pelo conhecimento, pelo saber, pela ação e pela inovação. O fogo, pela família, pelo social, pelo casamento e pelo comando; a terra, pelo relacionamento, pela afetividade e pelo retorno; o metal, pela carreira, pela estabilidade e pela segurança; e a água, pela filosofia, pela espiritualidade e pelo sentido das coisas.

Tivemos então que escrever numa folha um resumo do nosso movimento relacional: da infância até a fase atual, passando pela adolescência e pelos primeiros relacionamentos. Difícil. Grande demais. Que aspecto priorizar? Escolhi um ou outro ponto que me incomodava mais e fui em frente. À medida que avançava, olhando o aperto das demais colegas, ia pensando: agora é que virá à tona quão loucas somos. Dito e feito: nos minutos seguintes, cada uma despejou a sua dose de insanidade (...).

Ao terminar meu relato, a professora perguntou sobre a minha espiritualidade, eu disse que não era nada desenvolvida e ela decretou: “Madeira 3”. Quis protestar, questionar, mas ainda havia outras colegas por se manifestarem e achei por bem me conter. Internalizei o beiço e esperei.

Encerrados os depoimentos, a palestrante pediu que nos reuníssemos em grupos: as madeiras aqui, as terra ali, as híbridas madeira-terra lá, as “metaleiras” acolá e assim por diante (nenhuma água no grupo). Minha única colega madeira sentou-se à minha frente e me saiu com esta: “Bem, nós, madeiras, que não ligamos para casamento nem filhos...”.

Chamei a professora. Só porque não abordei as brincadeiras de boneca na infância e viajei para lá e para cá (em busca de saber e conhecimento? sim, mas para que serve o saber, senão para aprofundar nosso autoconhecimento e os nossos relacionamentos?). Enfim, protestei, e ela me disse que, talvez, então, eu fosse terra com ajuste criativo em madeira e me mandou pro grupo terra e a minha colega para as híbridas madeira-terra.

O grupo terra compunha-se de uma moça (a única mais nova do que eu e bem mais nova do que as demais), que engravidara aos 15 anos, e cuja mãe estava presente (grupo metal), e de uma colega separada, mãe de dois filhos, atraída por homens fogo, mais afeita à família que à carreira... “Que soluções, nós, mulheres de terra, teríamos para os nossos problemas relacionais?”

Ó vida, ó céus, professora, posso mudar de novo? Nós, terra, temos que ter bem claro do quê gostamos (gostar de “homens fogo” não vale!). Temos que gostar de uma profissão, ter interesses próprios e variados etc etc etc.

As mulheres madeira apresentaram como sugestões para si mesmas “expressar o que desejam sem esperar retorno” e “manifestar as emoções”, enquanto as de metal (que costumam carregar os homens nas costas) devem mostrar a própria fragilidade, conseguir impor limites e dizer não.

[Para mim, somos todos terra. Assim que nascemos, precisamos do leite materno e de cuidados constantes. Depois, despertam os hormônios, o desejo de procriar e, cumprida essa missão, resta-nos transmitir o aprendizado e servir de apoio a todo esse mecanismo da natureza. Tudo o que fazemos no meio disso é “ajuste criativo”. A essência é uma, e o resto é ajuste. Evidentemente esses ajustes nos tornam pessoas mais sofisticadas e prolongam a permanência de todos nós neste mundo, isto é, são muito bem vindos.]

Ao final da tarde, formamos um círculo e nos demos as mãos (ai ai...). Cada uma deveria dizer um cumprimento à colega ao lado, até completar o círculo. “Você é minha amiga”, “te adoro”... Na minha vez, empacou. “Não consigo fazer isso!”, foi o que eu disse. Dei dois beijinhos na colega pra desempacar. Desfeito o círculo, voltamos a caminhar pela sala tendo de pensar numa palavra. Pensei em confiança. E, em seguida, pensei no que estava escrito em cada uma das várias xicrinhas de chá que eu havia tomado ao longo da tarde – luta, leveza, terra.

Cumprimentei as colegas mantendo a confiança.

***


Cabe ressaltar que, embora eu apresente as minhas dificuldades com o método, há muitos aspectos interessantes na filosofia chinesa, como os ciclos construtivos e destrutivos dos cinco elementos.


O ciclo construtivo cria ou gera harmonia e representa uma transformação positiva: a madeira alimenta o fogo, o fogo gera terra, a terra gera metal, o metal gera água, a água gera madeira, que por sua vez gera o fogo.



No ciclo destrutivo, os elementos interagem de maneira forte e competitiva: o metal, como uma lâmina afiada, corta a madeira, a madeira retira nutrientes da terra, a terra represa o movimento da água, a água apaga o fogo, e o fogo derrete o metal.

A sabedoria está em conseguir identificar esses cinco elementos e os ciclos em que se encontram e se posicionar frente a eles.

6 comentários:

  1. Mas já não é complicado o suficiente de se entender sem tentar se encaixar nesses elementos? Talvez útil para entender o que não somos...

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  2. Oi Sílvia, estamos te esperando! Quando tu vem?

    Na hora eu achei tudo um pouco bobo, mas agora não paro de associar as minhas atitudes e as das pessoas em geral aos cinco elementos, no fim das contas valeu :)

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  3. Chego dia 21/5. Adorei as tuas fotos de criança nesse post. Tão bonitinha! E claro que tu aparece com uma vassora e bonecas e o Fabrício com um carrinho...

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  4. Viu só? Foi no século passado, então se explica. Será que foi ideia minha? "Manheeê, eu quero uma vassoura! Eu queroooo".

    :o)

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  5. Aiai, Mari, tu foste bem perseverante em ir até o fim. Eu teria morrido de tédio no meio da dinamica. :-)
    E como colocar isso em prática esse método milenar?
    bj

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  6. É que tu sempre foi bem resolvida, né, Márcia. Até nos momentos mais "loucos" ;)
    Mas o método milenar oferece alguns insights se a pessoa estiver determinada a apreender o máximo. No nosso trajeto até Alegrete, eu posso desenvolver melhor o tema ehehe
    Brincadeirinha, viu. Beijo!

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