sexta-feira, 6 de março de 2009

ser ou não ser, eis a questão

Em meio ao debate que o meu grupo de Oficina Literária vem travando, nas últimas semanas, a respeito da publicação da nossa coletânea, um dos colegas perguntou: “Afinal, quem quer ser escritor e quem considera isso um hobby”? Alguns acharam a pergunta irrelevante, todos queremos um belo livro e o importante é o conteúdo.

O colega discordou. A resposta implicava uma série de outras coisas: “Um escritor se irrita até quando o editor deixa um espaço duplo entre duas palavras. Um escritor revisa a revisão. Revisa a revisão da revisão. E pouco se importa com o que não tem a ver com o texto ou com o livro. Aliás, não se importa nem com dinheiro, se se importasse escolheria outra profissão”.

É bom ouvir isso. Mesmo que não se tenha resposta para a pergunta. Não é fácil dizer para si mesmo: “quero ser” ou “sou” escritor (escritor é profissão?). Também não é fácil dizer “não me importo com dinheiro” (ou melhor, pode até ser fácil dizer, mas acreditar mesmo nisso...). Não é fácil lidar com as próprias limitações e convencer a si mesmo de que não está perdendo tempo ou buscando algo vago e impalpável.


No caso da oficina, acho que o colega já sabe a resposta. Num grupo de 16 - mesmo que os editais deixem claro que o curso se destina a aspirantes à profissionalização e não a escritores de fim de semana - as motivações, o momento, a disposição e até mesmo o talento (?) de cada um variam bastante. É só por isso que a pergunta se torna irrelevante.


Não fazê-la nunca, porém, é deixar espaço para os amadores.

3 comentários:

  1. Acredito no que diz o Stephen King, que um escritor é aquele que tem a necessidade de escrever. Ele não quer ser um escritor, ele simplesmente PRECISA escrever. Tornar isso profissional, viver disso, não é o que define um escritor. O que define um escritor é simplesmente o ato de escrever.

    Então quando me perguntava (a mim mesmo por motivos próprios) se algum dia conseguiria ser um escritor, vejo que já passei deste estágio. Tenho meu site pessoal, um blog onde ainda não sei exatamente o que quero dizer. Tenho um site técnico sobre investimentos em consórcios, tenho um site sobre atitudes e comportamentos empreendedores, escrevo dezenas de emails diariamente, muitos com mais de dez páginas de muita argumentação. Sou um escritor.

    Claro que há os puristas que só consideram escritor aqueles que obedecem as normas técnicas, que escrevem frases perfeitas em parágrafos planejados à exaustão. A estes digo simplesmente: fiquem em seu mundinho, o meu é maior que o seu.

    E há os que pouco lêem (sei que não tem mais acento, dane-se (não era essa a palavra que queria, mas estou na casa dos outros, melhor controlar a língua), sou de antes da reforma, me reservo a esse direito por mais uns anos) dizendo que não têm tempo para isso. Lamento por eles, que dispensam a melhor forma de aquisição das ferramentas básicas de todo escritor.

    Para quem gosta e para quem não gosta do tipo de livro que ele escreve, recomendo a leitura, On Writing, do Stephen King.

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  2. Acabo de notar que o comentário foi mais longo que o post. E mais que isso, enquanto escrevo aqui, todos os comentários que aparecem na lista de últimos comentários que há no menu lateral, são meus.

    O que me lembra de uma coisa que devo fazer com mais frequência (sem trema), comentar posts no meu próprio site. Assim, não apenas deixo minha opinião mas ainda divulgo os blogs dos amigos no meu.

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  3. Fabrício, pessoas cultas e inteligentes, das mais diversas áreas, utilizam a escrita para se comunicar. É uma ferramenta que está aí, à disposição de todos. Só que alguns extrapolam. Utilizam essa ferramenta de forma excepcional. Para isso, é preciso empenho e talento. Não acho que todo mundo que escreve seja escritor. Ou melhor, posso até achar, mas será um escritor num sentido amplo.

    Segundo o dicionário, escritor é:

    1 O que escreve. 2 Autor de composições de qualquer gênero literário (...).

    Qual o problema de escrever frases perfeitas em parágrafos planejados à exaustão? Sorte de quem se depara com elas! Não é preciso obedecer "normas técnicas", quase todos os grandes escritores, aliás, as transgridem. Mas quem não tem domínio amplo da língua deveria sim se informar, procurar escrever "certo" ou como os "grandes", até ser capaz de fazer suas próprias transgressões com segurança (caso queira escrever melhor, isto é, "mais bem").

    Ninguém é obrigado a buscar isso, obviamente. Da mesma forma que não é obrigado a dominar a informática ou as artes culinárias. Ninguém é melhor ou pior como ser humano por não saber se símbalo é com c ou com s.

    Só não me ponha todos no mesmo saco, como se não houvesse os "mais escritores" e os "menos escritores".

    Kisses

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