terça-feira, 5 de maio de 2009

bobagens, Montaigne e Aulus Gellius

Abandonei um pouco os caracoles, mas estou de volta. Tenho pensado muito e agido pouco. Não é ruim; precisava pensar. E a conclusão é: melhor agir em alguma direção do que ficar parado. Claro, não estou falando de ações destrutivas, mas de ações construtivas que possam impossibilitar outras ações construtivas (pela simples razão de que não se pode fazer tudo). À medida que dividimos a ação em partes menores e damos os primeiros passos, a convicção vai surgindo.

Outro assunto: queria comentar o livro que a Canciam me emprestou (a Lopez recém terminou de lê-lo e eu estava na fila), As 10 bobagens mais comuns que as pessoas inteligentes cometem e técnicas eficazes para evitá-las, de Arthur Freeman e Rose Dewolf.

Bem, não vou comentá-lo (li umas cinco páginas, por enquanto; minhas leituras têm sido bastante aprofundadas, como se vê). Vou apenas citar os títulos de alguns capítulos e subcapítulos:

- Deu branco: quando a nossa inteligência nos deixa na mão, o poder da mente, ampliando os limites, o estresse piora os erros, novos hábitos de pensar;
- Catastrofismo: perder a cabeça e outros sintomas, como se desencadeiam os medos, seja realista, ouça a si mesmo, questione-se, descatastrofismo, registre seu raciocínio, saia em sua própria defesa;
- Telepatia: quanto mais íntima a relação, maior a ilusão, o hábito de presumir, dicas e pistas, quando você entende tudo errado, quando os outros entendem tudo errado, dê nome aos bois;
- Mania de perseguição: uma frase - as mais diversas reações, causas comuns, o efeito cumulativo, quando você tem razão em se sentir criticado;
- Acreditar em tudo o que o seu assessor de imprensa diz: como uma overdose de pensamento positivo pode ter efeito negativo, os assessores de imprensa do dia-a-dia, o assessor de imprensa interior, teste da realidade, a verdadeira atitude vencedora;
- Levar críticas muito a sério: de onde vem a sensibilidade a críticas, aprenda a questionar seus críticos, filtragem e relativização, o crítico interior, como reconhecer uma crítica construtiva;
- Perfeccionismo: as imperfeições da perfeição, ser exigente pode ser bom, perfeição na dose certa, porque é tão difícil ceder, abrindo caminho para mudanças, estabeleça os seus padrões, como ser flexível, abordagem passo a passo, alguma coisa é melhor que nada;
- Mania de comparação: o fator ego, a comparação como fator de motivação, como lidar com as opiniões alheias, a solução "e daí", do que você se dispõe a abrir mão, mude os termos de comparação;
- Pensamento condicional "e se...?": vamos reescrever a Lei de Murphy, a premissa furada, arranjando sarna para se coçar, o "e se...?" positivo e realista, preocupação seletiva;
- Deve-ser-assim: o conforto - e as vantagens - do deve-ser-assim, quando as obrigações atrapalham, ideias à base de ia, podia, devia, deixe o passado para trás, como lidar com a culpa;
- O vício "sim, mas": a faca da cozinha, um misto de equívocos perigosos, rumo ao "sim", troque o "sim, mas..." pelo "sim, e...", um pouco de faz de conta, pense ao contrário, dizendo sim para os outros, dizendo não para os outros, o poder da asserção positiva, como lidar com alguém do tipo "sim, mas..." na sua vida;
- Como ativar seus pontos fortes: ponha o óbvio em dúvida, atribua responsabilidades, não exagere, como criar alternativas de pensamento, sentimento e ação, compare prós e contras, classifique seus erros, use as adversidades a seu favor, crie imagens substitutas, ensaio de imagens positivas, auto-instrução, autodistração, bancando o advogado de defesa;
- Além da compreensão: a teoria na prática, administração do tempo, planejamento de experiências para aprimoramento ou prazer, resolução de problemas, divida seu objetivo em etapas menores, um pouco de faz-de-conta, experimente novos comportamentos, relaxamento, roteiro de relaxamento;
- Viva melhor: uma ideia melhor, ferramentas para a vida inteira, o mundo não é todo negativo, assumindo a responsabilidade por si mesmo.

***


Sexta passada, tomei um café com o Felipe e ele mencionou o meu post anterior. Disse ser um grande e mero consumidor de ideias alheias. E, para confirmar a declaração - ao mesmo tempo em que atenuava minhas dúvidas sobre como deve/pode ser um blog -, falou-me de Montaigne, considerado o criador do gênero "ensaio". Segundo o Felipe, Montaigne refletia sobre si mesmo, seus flatos e assuntos do dia-a-dia.

Fui olhar no Google e achei um texto do Voltaire Schilling sobre o autor:

Montaigne fundou um gênero - o ensaio - em que a pena do autor é deixada à vontade, guiada pelo senso comum, misturando instinto com experiência, circulando pelos temas mais diversos, sem compromissos com a autoridade, mas sim com a liberdade. Tratava-se do registro das suas experiências, de observações e reflexões que ele extraíra da vida.

Nada lhe foi estranho: o amor, a luta, a religião, a coragem, a amizade, a política, a educação... Recorrendo largamente aos fatos passados e ao enorme domínio erudito dos clássicos, escrevia pelo gosto da aventura e pela emoção que lhe provocava, tornando o leitor cúmplice das suas emoções. Como ele mesmo disse, "il n'y a point de fin en nos inquisitions", não havia limite para suas inquietações.

Exausto do mundo, passou a viver só para si, tornando-se personagem do seu próprio interesse (sendo repudiado mais tarde por Pascal exatamente por isso). É de Jacob Buckhardt, o grande historiador da cultura da Renascença, a ideia de que foi por aquela época, pelo século XV-XVI, que o Homem deu lugar ao Indivíduo, isto é o Homem descobriu a sua singularidade, o seu ineditismo. Um ser inequívoco, absoluto na sua excepcionalidade, cuja personalidade ou vivência jamais poderá ser passível de repetir-se em qualquer outra circunstância.

Até aquela época os homens pertenciam a uma corporação de ofício, a um grêmio profissional, a uma grande família ou a uma dinastia, até que se descobrem como indivíduos com possibilidades de construírem seu próprio destino. De certo modo, Montaigne, ao afirmar que "Je suis moy-mesmes la matiere de mon livre" (Eu mesmo sou a matéria do meu livro), inspirou o americano Walt Whitman, que no século XIX, nos versos "Song of Myself" (1882), também decidiu fazer de si e da sua vida o tema da sua obra poética.

3 comentários:

  1. HAHAHAHA Adorei o parágrafo final.

    Chove forte agora. Será o fim da estiagem no interior do Estado? Ou o fim do meu cabelo liso no casamento do Josimo?

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  2. Ai agora é que me dei conta! Fui eu que pedi chuva pra não sair a caminhada literária no dia 9...! :)

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  3. Felipe: Na Wikipédia (bela fonte!), dizia "a.C.". Acho que traduziram "A.D." errado!

    [ Aos que não conhecem o Felipe: ele não tem oitenta anos, nem é verdade o que disse a respeito de si próprio. Mas pode se dar ao luxo de buscar o "saber pelo saber"! :]

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