terça-feira, 23 de novembro de 2010

viajandona

Toda vez que eu vou à casa dos meus pais, minha mãe nos lembra (a mim e a meus irmãos) que tem rezado por nós. Se temos uma novidade boa: "eu sabia, tenho rezado tanto". Se não é tão boa assim: "ah, peço a deus pra abrir os caminhos de vocês, mas vocês têm que rezar também".

Claro, que bom ter a nossa mãe a rezar por nós, isso não se discute. A questão é: precisa anunciar essa preocupação a todo e qualquer comentário? Podemos ficar quietos e infelizes, de vez em quando? Ou quietos e felizes? Ou simplesmente quietos? Não seria isso que a reza deveria propiciar? Mais quietude, menos ansiedade? No nosso caso, acaba gerando pequenos bate-bocas e apelos recorrentes do tipo "pelo amor de deus, dê uma folga pro santo".

É por isso que eu não digo à minha mãe que tenho rezado (eu, uma ateia convicta). Coisa recente, fruto dos livros de auto-ajuda (ou será das suas rezas?).
 
Primeiro foi aquele livro "Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas", que me fez pensar sobre o que eu andava pensando. Depois, peguei emprestado o "Comer, rezar, amar", do qual a parte que mais me agradou foi a Índia (lembro que antes de eu lê-lo uma colega havia dito que tinha gostado dos trechos da Itália e da Indonésia e achado uma chatice a parte da Índia; talvez por eu estar mais familiarizada com as experiências italianas e indonésias, minha impressão tenha sido diferente). Quando falo em interesse pela Índia, não quero dizer que eu pense em ir até lá ou me disponha a lavar chão do templo, mas que me atrai a ideia dos mantras e do "esvaziar a mente".

Minha mãe (sempre ela!) me veio um dia com uma palavra anotada num pedaço de papel. Disse que tinha ouvido alguém na tevê dizer que era um mantra e que repeti-la me traria coisas boas: "zengoldabil". Óbvio que nem a pronunciei, não sabia o que era, vá que fizesse o efeito contrário. Mas resolvi criar uns mantras próprios, tais como "eu sou iluminada" e "tudo vai dar certo" (Mais tarde, comentei isso com uma amiga e ela me disse que eu poderia atrair um poste de luz, o que me atrapalhou bastante: sempre que eu falava "iluminada" me vinha à mente o poste de luz. Substituí o termo por "abençoada", mas mesmo assim a imagem do poste continua surgindo, então eu repito e repito e repito o mantra até ele perder o sentido e virar um zengoldabil qualquer).

Gosto de repeti-los enquanto corro. Funciona assim: ao perceber que um pensamento negativo se espreita, dou-lhe uma examinada rápida, verifico se há algo de novo e, se concluo que é só mais um pensamento viciado, masoquista, que não merece reflexão, eu parto pros mantras: "Eu sou abençoada, tudo vai dar certo, eu sou abençoada, tudo vai dar certo". Depois começo a rir do ridículo da situação, até que o pensamento torto se vai. É como aquela técnica dos meninos de recitar a escalação do time pra evitar uma situação constrangedora.

O fato é que essa história de brincar com mantras despertou forças ocultas e, se numa hora eu estava levinha e faceira, querendo bater asas, em seguida acabei levando uma rasteira, como se o mundo se movimentasse pra me por de volta no chão. Caí, mas me levantei. E me coloquei num pedestal, pelo menos por uma semana (um pedestal não é um lugar pra se ficar por muito tempo).

Quando fui devolver o "Comer, rezar, amar", minha mãe me emprestou um outro livro que ela tinha achado na estante (um livro do meu pai, de 1952 - um clássico da auto-ajuda): "O Poder do Pensamento Positivo", de Norman Vincent Peale. Como eu sempre lhe dou um chega-pra-lá nesse papo de orações ela já me apresentou a obra com um "apesar das carolices...". E é o que estou lendo, despretensiosamente.

Prefiro os meus mantras individuais a orações prontas, mas estou absorvendo o que me interessa. Ainda nessa linha, hoje de manhã, abri meu e-mail e havia um spam sobre um curso de respiração nas montanhas. Me interessei. Na verdade, recebo esses spams há um tempão e sempre me pareceram interessantes, mais por imaginar o lugar como uma espécie de spa do que pelo aspecto da respiração. Bom, em vez de apagar o e-mail, escrevi a eles pedindo mais informações.

Na hora do almoço, despejei todos esses pensamentos sobre a minha colega, coitada, explicando como eu vinha repetindo mantras e até... pasme.. rezando! (hoje vim no carro recitando o Pai Nosso). Ela achou esquisito, eu disse que era uma forma de substituir pensamentos negativos por outros mais positivos e ela achou que era trocar uma obsessão por outra. Será que se eliminam obsessões? (nem sei se é obsessão ou compulsão a palavra certa). Ou será que o máximo que se consegue é substituir uma coisa por outra? Bem, minha colega me mandou largar disso: "Mari, toc não combina contigo, acha outra coisa mais criativa pra botar na cabeça". Mas não, não chega a ser toc.

6 comentários:

  1. Isso tudo funciona. Uma mente positiva, se não atraia esse tipo de coisa, ao menos repele as pessoas negativas. Com o tempo, melhoramos o nível das pessoas com que nos relacionamos, melhorando o nível das discussões e o conteúdo das mesmas.

    Uma mente positiva pensa mais em realizações do que em fofocas. Pensamento gera ação. Ação gera resultado. Quem só reclama, não tem tempo para resolver seus problemas.

    A mente positiva, pensando no que pode ser positivo, pensa no futuro. Pensar no futuro ajuda a criá-lo da maneira como o imaginamos. Há alguns anos escrevi o seguinte texto:

    http://www.peruzzo.org/plano-de-voo/

    Em 2006, quando havia escrito aquilo, TUDO era absolutamente irreal, imaginário. Não fazia a menor idéia de como realizar nem mesmo uma pequena fração do que coloquei no papel. Estamos em 2010 e já realizei muito mais do que escrevi naquela época.

    Sobre este assunto, há algum tempo vi na livraria Cultura um livro infantil sobre uma menina que tudo que escrevia com a mão esquerda, se tornava realidade. Comecei a rir no meio da livraria, lembrando que tudo que eu escrevia, no meu caso, com a mão direita, também acabava acontecendo :-)

    Acreditando ou não, continuo escrevendo. Sempre.

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  2. Muito bem, gostei: "Uma mente positiva pensa mais em realizações do que em fofocas".

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  3. "e ela me disse que eu poderia atrair um poste de luz". Hhauhauhuah!

    "(um pedestal não é um lugar pra se ficar por muito tempo)" :))

    Adorei tudo! Só evita qualquer caminho que possa levar a qualquer obsessão!

    Beijo!

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  4. Ah, Roger, pois é, não sei se uma obsessãozinha não me faria bem, mas tomarei cuidado!

    É sempre bom te ver por aqui.

    Bjo

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  5. Mari, o spam sobre respiração nas montanhas me lembrou a nossa professora de Linguistica.Lembra da historia dela, sobre respirar o ar puro da Unisinos? hahah
    Bom findi, minha amiga abençoada. :)

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  6. Sério, ela falava nisso? Eu só lembro da parte de usar botas sempre, para se proteger das cobras.

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