domingo, 31 de outubro de 2010

2º turno

Sete e pouco da manhã, chego ao colégio Maria Imaculada para mais um dia de trabalho como mesária. Já perdi a conta das vezes em que desempenhei a função, e sempre que me chamam é a mesma coisa: juro a mim mesma que pedirei dispensa da próxima vez. Depois que passa, acabo deixando por isso mesmo.

Hoje eu estava indócil, como sempre. Atendi os eleitores, andei de um lado pro outro, fiz palavras cruzadas, li o jornal de domingo, a veja, a galileu e outras que estavam por ali, cantei (sim!), fui e voltei do banheiro, da cafeteria, do pátio, anotei nomes exóticos (Osleno, Getterson, Jesner, Jandemar, Ismênia, Leontina, Tilma Windsor, Beno, Clorocilda, Fridalina, Sitamar, Domethilde, Candoca, Lieselote, Brasilina, Jupyra, Esmeralda Generosa, Marselhesa, Alvacir, Jovelina, Delfina, Petrolina, Santa Erotildes, Nagiba, Nyron), até que a urna marcou 17h.

Entre o que aprendi nas leituras: "tudo é uma questão de dose: a noz-moscada, na quantidade que a consumimos, é inócua, mas se você comer uma inteira, terá alucinações por dias". E "até mesmo uma substância aparentemente inocente como o leite causa alterações em nossa percepção, nosso intestino converte alguns de seus componentes em opiáceos (...), em recém nascidos beber leite acaba gerando uma experiência parecida com a da heroína" e "a recompensa é tão boa que a criança quer voltar a mamar de novo".

(No primeiro turno, li sobre os vinte e tantos graus de psicopatia e sobre a morte em cada uma das religiões - aliás, li algo interessante hoje sobre religiões: que, ao responderem perguntas sobre temas religiosos, os que se saíam melhor eram os ateus; em segundo lugar vinham os judeus e, por último, os católicos)

Com os colegas, mais especificamente com a Carol, aprendi sobre divórcio e separação e o que muda com a emenda constitucional nº 66 (a Carol também me ajudou na coleta de nomes exóticos).

Tivemos apenas um incidente.

Em geral, todos chegam amigáveis, solidários com a nossa situação. A exceção à regra foi uma senhora que dormiu com os pés destapados. Ao lhe ser solicitado que apresentasse um documento com foto, disse à Carol que "todos os comerciais estavam mostrando que não precisava". A Carol contestou educadamente, a mulher a chamou de "ignorante", eu ri num primeiro momento, ela disse que não via graça nenhuma, eu disse que também não, estava rindo de nervosa (da sua estupidez). Embora estivesse com todos os documentos, ela os pegou de volta e se foi embora, bufando. Depois, vi que o ano de nascimento dela era 1938 e que ela não era obrigada, portanto, a votar.

Num outro episódio, tentei entabular uma conversa com uma menina de quatro anos.

_ Que linda tua bolsa. É da Barbie?
- ...
- Quantos anos tu tem?
- ... (mostrando os quatro dedinhos)
- E essas chiquinhas, foi tu que escolheu? Ou a mamãe?
- ...

Enquanto eu pensava em algo mais pra dizer, a colega da outra sessão, que divide a sala conosco, me deu o golpe de misericórdia. Disse que se eu não sabia quem era a Polly era melhor desistir (a bolsa era da Polly). Me lembrei da Alice, que assim que me conheceu pediu à sua mãe se eu podia dormir na sua casa.

Ok, ok, a Alice é filha da Lopez, alguém que já animou um Gigantinho lotado... mas...

Um comentário:

  1. Hehehehe!!! Lotadíssimo, diga-se de passagem! Mari, passa lá em casa que a gente monta um curso rápido de atualização em brinquedos infantis femininos... Alice será uma ótima profe.

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